domingo, 30 de maio de 2010

É INAUGURADA A PRIMEIRA BIBLIOTECA-PARQUE DO BRASIL

Por Gabriela Raineri

A palavra biblioteca, em grego, significa "depósito de livros". Já em Manguinhos, Zona Norte do Rio de Janeiro, a palavra tem um conceito muito além desse. Lá, a biblioteca é mais que um simples lugar onde se guarda livros. Recém-inaugurada pelo governo do estado, no dia 29 de abril, a Biblioteca-Parque de Manguinhos une cultura, informação e integração social. Pioneiro no Brasil, o projeto vem conquistando moradores próximos, que já começam a inserir a ida à biblioteca em sua rotina.



Salão principal da Biblioteca


Segundo Ivete Miloski, coordenadora da Biblioteca-Parque, a procura é vista através de "picos de audiência": "No final da tarde, a biblioteca fica mais cheia porque é a volta dos adolescentes da escola", diz Ivete.

O acervo do local conta com vinte e sete mil livros, atendendo a todos os gostos, desde literatura infantil até livros de pesquisa para estudantes e adultos. Todos os tipos de autores podem ser encontrados na biblioteca de Manguinhos. Ou seja, o projeto não fica aquém de nenhuma outra biblioteca do país. Além disso, para o conforto dos frequentadores, lá a infra-estrutura é de dar inveja: foram construídos sala de braile, ludoteca, sala de leitura para pesquisas, um grande salão para lazer, área de cinema, música, jardim de leitura, sala de reuniões para moradores e usuários da biblioteca, computadores com acesso à Internet. São inúmeras formas de atrair os moradores da região.

Parede da sala "Meu bairro", para reuniões de moradores


O projeto, que investe na construção de equipamentos culturais como forma de promover inclusão social, é baseado na experiência pioneira da cidade colombiana de Medellín.

No vídeo abaixo, Ivete Miloski explica o porquê da inspiração no projeto pioneiro da Colômbia. Assista!






MORADORES DA REGIÃO TRABALHAM NA BIBLIOTECA


Onde funciona o espaço multimídia, o usuário escolhe filmes em DVD tanto para assistí-los em casa como no próprio local. Lá, trabalha Renato Pereira, morador de Manguinhos. O rapaz se diz realizado em poder contribuir para o sucesso do projeto. Renato diz que a região sempre foi marcada por coisas ruins e considerada um celeiro de maldades.

No entanto, agora a situação mudou completamente: " A infra-estrutura implantada trouxe perspectivas pessoais. O lugar parece um oásis em meio a um deserto cercado por maldades e desilusões. É uma luz no fim do túnel oferecida a todos nós", salienta o rapaz, que é músico.

Crianças assistindo a um filme no espaço Multimídia


Já na ludoteca, duas meninas lidam com crianças humildes todos os dias. Bianca da Silva e Priscila Ferreira cuidam do espaço mais atraente para os pequenos, com muitos briquedos, fantoches, instrumentos musicias e livros infantis. Quando as duas eram crianças, não existia nada disso. Hoje, para Bianca Cruz, que é assistente da ludoteca, a oportunidade deve ser aproveitada: "Isso é bom para os moradores, uma oportunidade única. Antes da biblioteca, não víamos movimento nenhum por aqui".

Quando questionada sobre a realização pessoal que o projeto traz para sua vida, Bianca não exita em dizer que diariamente aprende com as crianças e também oferece a elas um pouco de sua experiência.

Companheira de trabalho de Bianca, a jovem Priscila Ferreira, estagiária da ludoteca, conta que os menores ficaram encantados com a construção da biblioteca, e que ficaram na expectativa desde quando as obras começaram. "É que através dos livros e dos brinquedos, a crianças podem ir para onde quiserem", conta Priscila.

Na ludoteca, origamis muito bem feitos enfeitam as paredes. Quem os fez foi a própria coordenadora do espaço, Sanda de Sá. Ela explica que a técnica é praticada junto com as crianças, estimulando a criatividade delas. Para Sandra, é muito legal trabalhar em um projeto pioneiro:
"A comunidade não tinha nada, é tudo novo para as crianças. Aqui, elas fazem descobertas", acrescenta.

Crianças brincando na ludoteca

As crianças Maíra de Brenda, que moram pertinho da Bilbioteca-Parque, são frequentadoras assíduas da "biblioteca de brinquedos". Para as duas, brincar por ali é muito melhor do que em casa.

RECÉM-INAUGURADA, A BILIOTECA ENFRENTA ALGUNS PROBLEMAS

Segundo Ivete Miloski, os moradores, que raramente tem acesso à Internet, estão vendo a biblioteca como uma "grande casa de lan house". Ela diz também que os adultos pouco frequentam o local. Além disso, as mães consideram a biblioteca uma creche: "Algumas mães trazem seus filhos de 2, 3 anos para cá, os deixam aqui e depois só vêm buscá-los mais tarde", conta Ivete.

Para a coordenadora, é importante educar a população para que saiba a diferença de uma biblioteca para uma lan house e uma creche.

Assim, para estimular a procura pela cultura, serão feitas atividades com músicas, semanas de poetas e escritores, com estudante e jovens. De acordo com Ivete, esses eventos irão mobilizar a população que nunca teve cinema, teatro. "Isso aqui é uma portunidade, uma janela para a cultura brasileira", finaliza a coordenadora.